Os mercados estão a recuperar? Parece que sim. Se a prudência leva a ter algum cuidado com afirmações definitivas, há alguns sinais de que a primavera vai trazer o fim de um mercado cinzento e triste.
Assim, copiamos o artigo originalmente publicado na newsletter da Allianz Global Investors: Mercado de capitais – Fevereiro 2023.
“2022 foi certamente um ano desafiante. Mas já acabou e os mercados de capitais parecem estar relativamente eufóricos neste início de 2023. À medida que o ímpeto da inflação começou a abrandar, tanto os mercados de ações como os de obrigações dispararam nas primeiras semanas do ano. Tal como as preocupações com a inflação influenciaram os mercados no ano passado, o seu recuo parece amenizar consideravelmente os investidores na maioria das classes de ativos: uma sensação de alívio há muito esperada após uma acentuada fase de tensão.
A inflação deixa de ser um bicho papão
Os participantes do mercado fizeram uma equação simples: a tendência de recuo da inflação deverá permitir que os bancos centrais alcancem o pico do respetivo ciclo de taxas de juro mais cedo e, possivelmente, a um nível de taxas de juro ligeiramente inferior ao esperado há alguns meses.
Ao mesmo tempo, ajuda também o facto de os dois principais pesos externos que influenciam a economia global, a crise energética europeia e a restritiva política de COVID-zero na China, já não serem tão relevantes como anteriormente. Na Europa, o inverno globalmente moderado tem levado a uma menor procura de energia de aquecimento, e é provável que os reservatórios de gás estejam mais cheios após o inverno do que o esperado antes do inverno.
Na China, as autoridades aperceberam-se de forma rápida e inesperada que seria difícil ficarem agarradas à política de “Covid-Zero”. Os passos abruptos de abertura que tiveram lugar desde novembro evidenciam uma vontade de atingir o objetivo de imunidade de grupo o mais rapidamente possível. Os participantes do mercado podem, agora, esperar uma retoma gradual da atividade económica na segunda maior economia do mundo, sendo bastante rápida face à de muitos outros países.
China, Europa e EUA: mercados a recuperar a ritmos diferentes
De volta à inflação: embora já tenha sido percorrida uma boa parte do caminho rumo a um novo equilíbrio nos mercados de bens graças à procura reduzida e ao regresso da oferta, quanto aos mercados de trabalho, parece ter sido percorrida apenas uma pequena parte do caminho. Em muitos países, os salários continuam a aumentar, ao mesmo tempo que a procura de mão de obra mantém-se robusta e as pessoas mantêm-se relutantes em trabalhar mais. Os bancos centrais têm pouca margem para fazer uma pausa.
As perspetivas económicas também são um fator decisivo para saber quando é que os investidores terão espaço para respirar de alívio. É provável que as perspetivas de crescimento na Ásia tenham melhorado significativamente em resultado da mudança de estratégia na China. Também na Europa, a recessão esperada para o inverno pode não se concretizar por enquanto. As quebras na produção parecem agora improváveis e os pacotes de ajuda de alguns governos para amortecer os elevados preços da energia devem estabilizar o consumo.
Nos EUA, por outro lado, podemos assistir a uma tendência de diminuição nas expetativas de negócio, consumo e produção. Os mercados de ações não parecem estar realmente preparados para tal evolução, apesar de já ter sido amplamente discutida a probabilidade de uma recessão iminente. É provável que, para os investidores na Ásia e na Europa e em comparação com os Estados Unidos, demore um pouco até poderem retomar o fôlego.
Por agora, aproveite para retomar o fôlego!”
Stefan Rondorf é Senior Investment Strategist Global Economics & Strategy da Allianz